Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos. (Atos 17.30-31)
E o servo inútil, lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes. Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; (Mateus 25.31-32)
Uma das maiores implicações do senhorio de Jesus Cristo é que ele julgará o mundo. No meio de um sério confronto com os líderes judeus que buscavam matá-lo, Jesus declarou que o Pai lhe deu autoridade absoluta para executar todo julgamento sobre a terra.[1] A pregação e o escrito dos apóstolos repete essa reivindicação radical várias vezes. No primeiro sermão de Pedro aos gentios em Cesareia, ele declarou: “A este ressuscitou Deus no terceiro dia e concedeu que fosse manifesto, não a todo o povo, mas às testemunhas que foram anteriormente escolhidas por Deus, isto é, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressurgiu dentre os mortos; e nos mandou pregar ao povo e testificar que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos.”[2]
O sermão de Pedro revela três grandes verdades, as quais formarão o esboço da nossa discussão sobre a exaltação de Cristo ao ofício de juiz. A primeira verdade que todos os homens devem concordar é que haverá uma consumação do mundo e um dia do juízo final. A segunda verdade é que, naquele dia, Jesus Cristo presidirá como Senhor e Juiz de todos. A terceira e última verdade que exige a nossa atenção é que Deus comissionou a igreja não somente para proclamar os benefícios do evangelho, mas também para alertar os homens sobre o grande e irrevogável julgamento que virá sobre o mundo!
A certeza e equidade do julgamento
A predominante visão materialista do universo é obrigada a interpretar a existência do homem como nada mais do que uma casualidade, sua história, como nada mais do que uma série de eventos randômicos e seu futuro, como uma absoluta incerteza, sem uma consumação com propósito. Em contraste, as Escrituras veem a existência do homem como uma obra proposital e criativa de um Deus soberano e moral que se revelou ao homem através da criação, das suas obras providenciais, de sua Palavra escrita e, final e plenamente, através do seu Filho encarnado. Além disso, as Escrituras ensinam que Deus convocará todos os homens para prestarem contas no julgamento final, na consumação de todas as coisas. Naquele dia, Deus julgará todos os homens de acordo com sua resposta à revelação que receberam.
À luz dessas verdades, o cristão reconhece que a história humana não é aleatória ou mesmo cíclica, mas linear. Teve um começo e terá um fim de acordo com o irrevogável decreto de um Deus soberano que a trouxe a existência. Falando claramente, a história humana está se movendo, até mesmo correndo, rumo a consumação final, na qual todos os homens serão julgados e recompensados de acordo com o que fizeram ou deixaram de fazer! O apóstolo Paulo escreve: “[Deus] retribuirá a cada um segundo o seu procedimento: a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade; mas ira e indignação aos facciosos, que desobedecem à verdade e obedecem à injustiça.”[3]
Ao indivíduo ou à cultura que julga a si mesmo segundo seus próprios padrões, a declaração de julgamento universal de Paulo pode parecer esperançosa. É um erro comum dos homens julgarem a si mesmos como justos aos próprios olhos. Contudo, àqueles que ainda podem ouvir a voz de sua consciência e especialmente aos que conhecem as Escrituras, essas palavras são muito mais do que somente desconcertantes. É testemunho tanto da Escritura como da consciência de que todos os homens pecaram e carecem da glória de Deus.[4] Não há ninguém que perseverou em fazer o bem e ninguém que procurou a glória, honra e incorruptibilidade que vêm de Deus.[5] Em vez disso, ambições egoístas tem conduzido todos os homens e todos os homens suprimiram a verdade pela injustiça.[6] Consequentemente, todos estão sujeitos a ira e indignação de um Deus santo e justo.[7] É por essa razão que Deus interveio e enviou o seu Filho para fazer expiação pelos pecados do homem. A sua morte satisfez a justiça de Deus e aplacou a ira de Deus. Agora, todos os que ouvem e creem no Filho serão salvos. Contudo, aqueles que recusam ao Filho serão por ele julgado.[8]
Essa declaração de julgamento universal frequentemente leva a questionamentos sobre a justiça de Deus: como pode Deus julgar aqueles que nunca ouviram a pregação do evangelho ou tiveram acesso às Escrituras? Para responder essa pergunta, devemos primeiro afirmar o testemunho das Escrituras sobre a justiça de Deus. Embora possamos não ser capazes de remover todos os mistérios desse acontecimento, conhecemos, sim, o caráter de Deus e podemos confiar em quem ele é. Como Moisés testificou, tudo o que ele faz é justo: “Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto.”[9]
Outra verdade para considerarmos sobre a equidade de Deus em julgar o mundo é que as Escrituras declaram que mesmo o indivíduo mais isolado nas regiões mais remotas do mundo recebeu, em algum grau, a revelação de Deus e será indesculpável no dia do juízo.[10] Feito à imagem de Deus, todo homem possui um conhecimento inerente sobre ele.[11] Três realidades inegáveis confirmam ainda mais esse conhecimento. Primeiro, a criação de Deus testifica da sua existência, atributos invisível, poder eterno e natureza divina.[12] Segundo, a providência de Deus determinou os tempos previamente estabelecidos e os limites da habitação de nações e indivíduos para que pudessem buscá-lo e encontrá-lo, bem que não está longe de ninguém.[13] E terceiro, a lei de Deus foi escrita sobre o coração de todo homem e serve como um guia moral e como um testemunho ao fato de que Deus é um Deus justo que julgará os homens de acordo com suas obras.[14]
[1] João 5.22, 26
[2] Atos 10.40-42
[3] Romanos 2.6-8
[4] Romanos 3.23
[5] Romanos 3.12
[6] Romanos 1.18
[7] Romanos 2.8
[8] João 3.18, 36
[9] Deuteronômio 32.4
[10] Romanos 1.20. A revelação que foi dada a cada um, através da criação, da providência divina e da consciência é comumente chamada de revelação geral, em contraste com a revelação específica, que vem através das Escrituras e da pregação do evangelho.
[11] Romanos 1.19
[12] Romanos 1.20
[13] Atos 17.26-27
[14] Romanos 2.14-15
Extraído do livro 26º capítulo do livro “O Poder e a Mensagem do Evangelho” de Paul Washer, a ser lançado pela Editora Fiel. Tivemos a oportunidade de traduzi-lo e o privilégio de poder compartilhar pequenos trechos de cada capítulo com vocês.Tradução: Vinícius Musselman Pimentel. Versão não revisada ou editada. Postado com permissão.© Editora Fiel. Todos os direitos reservados. Original: A Ascensão de Cristo como Juiz de Todos (Paul Washer) [26/26]Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.
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