Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus. (Romanos 3.23)
Neste capítulo, confrontaremos a verdade crucial: os homens pecam porque nasceram moralmente corrompidos.[1] Um dos termos mais importantes que os teólogos usam para descrever as profundezas da corrupção moral herdada pelo homem é a palavra depravação. A palavra deriva do prefixo de-, que comunica intensidade, e da palavra em latim pravus, que significa torcido ou entortado. Dizer que algo é depravado é dizer que seu estado ou forma original foi completamente pervertido. Dizer que a raça humana é depravada significa dizer que ela caiu de seu estado original de retidão e que todos os homens nascem pecadores moralmente corruptos por natureza. Para descrever a extensão dessa corrupção moral, os teólogos frequentemente empregam vários termos que comunicam a mesma verdade. Os mais comuns são: depravação total, morte espiritual e inabilidade moral.
Depravação total
A expressão depravação total foi empregada há muito tempo pelos teólogos reformadores e por outros a fim de descrever a condição decaída do homem. Embora o termo seja apropriado quando adequadamente definido, as expressões depravação generalizada ou depravação radical podem ser mais apropriadas.[2] Dizer que todo homem é totalmente depravado não significa que eles sejam tão maus quanto podem ser ou que toda obra que façam seja inteira e perfeitamente má. Antes, significa que a depravação, ou a corrupção moral, afetou seu ser por inteiro – corpo, intelecto e vontade. À seguir, consideraremos o que a depravação total significa e o que não significa.
Primeiro, depravação total não significa que a imagem de Deus no homem foi totalmente perdida na queda. Em vários textos, a Escritura ainda se refere ao homem como sendo feito “à imagem de Deus”.[3] Depravação total significa, sim, que a imagem de Deus no homem foi seriamente deformada e desfigurada e que a corrupção moral polui a pessoa por inteiro – corpo, razão, emoções e vontade.[4]
Segundo, depravação total não significa que o homem não tem conhecimento da pessoa ou da vontade de Deus. As Escrituras nos ensinam que todos os homens sabem o suficiente sobre o verdadeiro Deus e sua vontade e que são indesculpáveis diante dele no dia do julgamento.[5] O que significa, de fato, é que, sem uma obra especial da graça, todos os homens rejeitam a verdade de Deus e buscam suprimi-la para que não perturbe o que restou de suas consciências.[6] Os homens conhecem suficientemente a verdade sobre Deus para odiá-lo e sobre a vontade dele para resisti-la.
Terceiro, depravação total não significa que o homem não possui consciência ou que seja totalmente insensível ao bem e mal. As Escrituras ensinam que todos os homens possuem uma consciência, a qual, se não estiver cauterizada, é capaz de levá-los a admirar ações e caráter virtuosos.[7] O que, de fato, significa é que os homens não são obedientes de todo coração às diretrizes de sua consciência. Um homem não é reto porque conhece o que é bom ou denuncia o que é mal, mas porque faz o bem que conhece.[8]
Quarto, depravação total não significa que o homem é incapaz de demonstrar virtude. Há homens que amam suas famílias, sacrificam suas próprias vidas por outros, realizam seus deveres civis e fazem boas obras em nome da religião. Mas significa, de fato, que tal virtude não é motivada por um amor genuíno a Deus ou por um desejo verdadeiro de obedecer seus mandamentos. As Escrituras testificam que nenhum homem ama a Deus de maneira digna ou da forma que a lei comanda, nem há um homem que glorifique a Deus em cada pensamento, palavra ou ação.[9] Todos os homens preferem a si mesmo em vez de Deus e é o amor próprio ou aos outros – e não o amor a Deus – que os move a agirem em atos de altruísmo, heroísmo, dever civil e boa obra religiosa.[10]
Quinto, depravação total não significa que todos os homens são tão imorais quanto poderiam ser, ou que todos os homens são igualmente imorais ou que todos os homens praticam todas as formas existentes de maldade. Nem todos os homens são delinquentes, fornicadores ou assassinos. Mas significa que todos os homens nascem com uma grande propensão ou inclinação para o mal e que todos os homens são capazes de praticar mesmo os crimes mais horrendos e as perversões mais vergonhosas. Como um todo, toda a humanidade está inclinada a uma corrupção moral cada vez maior e essa deterioração moral seria incalculavelmente mais rápida se a graça comum de Deus não a restringisse.[11] O homem, em si mesmo, não pode se libertar ou recuperar dessa espiral descendente.[12]
Finalmente, depravação total não significa que todos os homens indispõe das faculdades necessárias para obedecer a Deus. O homem não é uma vítima que deseja obedecer a Deus, mas é incapaz por causa de fatores além do seu controle. Deus dotou o homem com intelecto, vontade e liberdade para escolher. O homem, como um ser moral, é, portanto, responsável diante de Deus. Depravação total significa, de fato, que o homem não pode se submeter a Deus porque ele não o deseja e ele não deseja por causa ds sua própria hostilidade contra Deus.[13]
[1] Salmo 51.5; 58.3; Gênesis 8.21
[2] O verbo generalizar significa torna ou tornar-se geral; tornar-se generalizado significa espalhar-se para todas as partes. Assim, a depravação se relaciona com a raiz de quem somos por natureza; a depravação procede diretamente da raiz de nossas almas.
[3] Gênesis 9.6; 1 Coríntios 11.7; Tiago 3.9
[4] Corpo (Romanos 6.6, 12; 7.24; 8.10, 13), razão (Romanos 1.21; 2 Coríntios 3.14-15; 4.4; Efésios 4.17-19), emoções (Romanos 1.26-27; Gálatas 5.24; 2 Timóteo 3.2-4) e vontade (Romanos 6.17; 7.14-15);
[5] Romanos 1.20
[6] Romanos 1.21-23; 1.18
[7] Romanos 2.15; 1 Timóteo 4.2
[8] Romanos 3.10-12; 2.13, 17-23; Tiago 4.17
[9] Deuteronômio 6.4-5, Mateus 22.37, 1 Coríntios 10.31, Romanos 1.21
[10] 2 Timóteo 3.2-4
[11] A. A. Hodge, Esboços de Teologia (São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas), 625.
[12] Jeremias 13.23, Romanos 7.23-24
[13] Romanos 8.7-8
Extraído do livro 14º capítulo do livro “O Poder e a Mensagem do Evangelho” de Paul Washer, a ser lançado pela Editora Fiel. Tivemos a oportunidade de traduzi-lo e o privilégio de poder compartilhar pequenos trechos de cada capítulo com vocês.Tradução: Vinícius Musselman Pimentel. Versão não revisada ou editada. Postado com permissão.© Editora Fiel. Todos os direitos reservados. Original: Pecadores destituídos (Paul Washer) [14/26]Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.
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