1.1. INTRODUÇÃO
É praticamente impossível à mente humana, limitada que é, alcançar a compreensão do que é Deus, em toda sua extensão e perfeição, e assim formular uma definição do que Ele seja. Deus é infinito em todos os sentidos e, desta forma, toda tentativa de explicá-Lo de maneira compreensível ao homem é ainda muito inferior (mas não inútil) àquilo que Ele realmente é.
Entretanto, foi e é, da vontade de Deus, que o homem, obra máxima de sua criação e refletora de Sua Pessoa, O conheça, ainda que por agora de forma limitada. Portanto, Deus providenciou formas para que o homem pudesse conhecê-Lo e ter relacionamento com Sua Pessoa.
Qualquer esforço do homem para definir Deus sempre será incompleto e muito distante de revelar quem Ele é, por isso a própria Escritura diz em Isaías 55:8-9:
“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o SENHOR. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos”.
Então, por não podermos compreender apenas pela razão o que é esse Ser Extraordinário, chamado de Deus e Senhor, devemos pensar como Agostinho:
“Creio, para que possa compreender”.
Assim, o conhecimento de Deus se inicia pela fé, como ensinou Paulo aos Romanos (10:17):
“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus”.
E essa fé é a ligação do homem com a espiritualidade de Deus, ou seja, a única forma de se entrar em contato com o mundo de Deus, melhor, a dimensão onde Deus está, é mediante a fé, por isso está escrito em Hebreus 11:1:
“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem”.
Desta maneira, a compreensão de Deus é feita de modo espiritual, e não apenas por meio dos sentidos naturais do homem (aquilo que se vê, se ouve, se toca, se saboreia e cheira).
De modo que a compreensão de Deus se inicia e se sustenta pela fé, mas é aperfeiçoada pelo conhecimento, podendo evoluir para experiências naturais com Deus, tais como ouvir a própria voz de Deus, como Isaías e os demais profetas, ver o Mar Vermelho se abrir, como o povo hebreu no deserto, receber os Dons do Espírito Santo, como os discípulos no Pentecostes, e muitas outras experiências que ainda hoje são possíveis. E é isso que a Escritura declara em Hebreus 11:6:
“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam”.
Portanto, para que se compreenda Deus é necessário que se creia que Ele existe, o que só então possibilitará ao homem conhecê-Lo, aproximar-se e ter experiências naturais com Ele.
Nesse ponto, citando o pastor e teólogo John Owen, podemos tentar conceituar Deus como:
“Um ser eterno, não causado, independente, necessário, que tem poder ativo, vida, sabedoria, bondade e qualquer outra excelência na mais elevada perfeição em si e de si mesma”.
E ainda, na definição do teólogo Augustus Hopkins Strong:
“Deus é o Espírito infinito e perfeito, em quem todas as coisas têm sua fonte, sustento e fim”.
1.2. A CONSCIÊNCIA NATURAL DA EXISTÊNCIA DE DEUS
Primeiramente, é importante termos em mente que a existência do homem está totalmente vinculada à existência de Deus. De maneira que a existência do homem prova a existência de Deus (essa afirmação é melhor explicada no item 1.3).
Assim, partimos do princípio que o homem já nasce com a consciência da existência de um ser superior, ou seja, de um “deus”, por isso se diz: “consciência natural”.
Em todos os lugares do mundo, o ser humano é apegado à ideia da existência de um ser supremo (deus), que cuida da existência do homem, do tempo e de toda a natureza. Isso se comprova na análise de todas as civilizações que já existiram na Terra, tanto aquelas estudadas na História: babilônicos, assírios, egípcios, gregos, como também os povos que foram recentemente descobertos: incas, astecas, maias e outras culturas indígenas, as quais cultuavam um ou vários deuses.
É bom lembrarmos que entre os gregos, os quais o apóstolo Paulo visitou em sua viagem missionária (At. 17:23) haviam inúmeros deuses e entidades sobrenaturais, contudo, havia um altar, ao DEUS DESCONHECIDO, não porque os gregos pensavam ter esquecido de algum
deus, mas devido a saberem (intuitivamente) acerca da existência de um ser superior a tudo que eles conheciam até então, o nosso Deus e Senhor Jesus Cristo.
Fato é que, em todos os lugares, e em todas as épocas, o homem cultuou a um “deus”, possuidor de características superiores às dele próprio, seja esse ser um “deus” humanizado, difuso ou etéreo, personificado na natureza, manifestado em eventos e circunstâncias acima do seu poder de explicação. O homem carrega dentro de si algo que o impele à um conhecimento extremamente elevado, chamado fé.
E por que o homem possui essa consciência natural da existência de Deus?
Em Gênesis. 2:7, está escrito:
“E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”.
Com base nesse texto, percebemos que no ato da criação do homem, Deus depositou dentro do homem parte de Sua própria natureza, isto é, a vida (Deus, que é vida – Jo.14:6 e I Jo. 1:2 – colocou dentro de sua nova criatura, o homem, a vida), inserindo no homem o conhecimento da Sua existência.
Logo, é natural a consciência da existência de Deus ao homem, pelo fato de sua própria formação ter decorrido da operação de Deus. É o mesmo que ocorre na vida de uma criança separada de seu pai: ainda que essa criança jamais o tenha visto, ou possuído qualquer contato com seu pai biológico, ela possuirá características que a identificará com ele, porque carrega em si semelhanças com esse pai: cor dos olhos, temperamento, forma física, e muitas outras afinidades, que a fará semelhante a esse pai – e ainda, ninguém falará que pelo pai dessa criança não estar perto e ser conhecido objetivamente por todos, não exista.
A Bíblia concorda com esse exemplo, ao apresentar o homem como criado “a imagem e semelhança de Deus”, no livro de Gênesis 1:26:
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança(…)”.
O escritor Robert Browning expressa a certeza da existência natural de Deus de forma clara:
“Eu sei que Ele está ali, como eu estou aqui, com a mesma prova, que parece não provar nada, e isto vai além das formas familiares de prova.”
Desse modo, é natural a consciência no homem da existência de Deus, pois o homem carrega dentro de si mesmo, ainda que em uma proporção muito menor, características e atributos que o próprio Deus possui (bondade, amor, sabedoria, justiça, veracidade).
1.3. A LIMITAÇÃO HUMANA
A existência de Deus é conhecida pelo homem quando, apesar das suas limitações, fraquezas e mortalidade, consegue conceber a ideia de um ser ilimitado, perfeito e eterno. Partindo desta ideia apresentaremos três argumentos acerca da existência de Deus: 1 – O Argumento Ontológico, de Anselmo de Cantebury, 2 – Os Cinco Argumentos em Prol da Existência de Deus, de Tomás de Aquino, e 3 – Deus Como Expressão Máxima das Virtudes Humanas.
1.3.1. O ARGUMENTO ONTOLÓGICO
Um dos argumentos mais sólidos, no campo filosófico, para sustentar a existência de Deus, é o Argumento Ontológico (Ontologia: ramo da filosofia que estuda a existência e a constituição do ser), defendido por Anselmo de Cantebury, no século XI.
Na tentativa de ajudar o homem a se aproximar de Deus, Anselmo criou um argumento em favor da existência de Deus através da razão, onde nenhum engano fosse capaz de distorcer essa existência. O argumento de Anselmo é este:
“Por definição, Deus é o mais perfeito dos seres, de tal modo que é impossível conceber outro ser mais perfeito; porém, se supuséssemos que Deus existe apenas como uma proposta intelectual, e não na realidade, então seria claro, por Deus existir verdadeiramente somente no intelecto (mente humana), que seria possível imaginarmos um ser mais perfeito do que o nosso ser perfeito (Deus), a saber, um que existisse na realidade e não apenas no intelecto. Portanto, Deus, o ser perfeito – deve realmente existir”.
Deste modo, o homem pode concluir pela existência de um Ser Supremo (Deus), pois seu intelecto e sua experiência natural lhe mostram que ele – homem – é limitado, o que o leva a ter certeza que acima dele deve haver um Ser Perfeito, ilimitado e completo, que quando o homem deixa de existir, continua existindo e sustentando todo o sistema do universo, como o Apóstolo Paulo afirma em Atos 17:28:
“Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos (…)”
E ainda é assegurado em Hebreus 1:3, que o próprio Deus sustenta todas as coisas pela Palavra do Seu poder:
“O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder (…)”
1.3.2. OS CINCO ARGUMENTOS EM PROL DA EXISTÊNCIA DE DEUS
Tomás de Aquino foi um dos maiores filósofos cristãos, que defendeu a existência de Deus no século XIII, utilizando-se da metafísica (que é o ramo da filosofia que estuda a essência dos seres e a transcendência, ou seja, aquilo que ultrapassa os aspectos físicos e busca a causa deles), apoiando sua doutrina através de cinco argumentos de razão pura.
Os cinco argumentos são:
1 – O Movimento: Todas as coisas no universo estão em movimento, ou seja, em contínuo desenvolvimento. Contudo para que saiam do estado de inércia (ausência de movimento), para o estado de ação, deve haver uma força capaz de proporcionar a ação. Por exemplo: Uma bola de futebol se movendo. O pé do jogador a colocou em movimento. O jogador foi gerado de sua mãe. E sua mãe nasceu de sua avó, e esta de sua bisavó, e assim regressivamente.
Se fôssemos voltando até encontrar o primeiro movimento, que retirou a bola da inércia e a colocou em movimento (ação), nunca o encontraríamos, pois sempre existiria um movimento anterior, até o ponto em que fosse impossível chegar ao primeiro movimento (ou alteração), por essa razão, precisamos apontar um primeiro movimentador (alterador), que não é movido por ninguém, mas que movimenta todas as coisas, e todos compreendem que este é Deus.
2 – As Causas Eficientes: Nesse mundo palpável, todas as coisas existentes possuem uma causa anterior de existir, que deve ser maior do que a própria causa. Por exemplo: Um carro viajando por uma estrada. É impossível imaginar um carro existindo sem que haja uma fábrica que o produziu (a fábrica é a causa eficiente, que produziu o carro) e da mesma maneira é impossível imaginar uma estrada que não tivesse sido construída por alguma empresa construtora (a empresa construtora é causa eficiente, que construiu o carro).
Não há nenhum caso conhecido no mundo em que uma coisa qualquer é a causa eficiente de si mesma, pois nesse caso, seria anterior a si mesma, o que é simplesmente impossível. Como no nosso exemplo é impossível imaginar que o carro e a estrada existam por si mesmos, isto é, sem uma causa eficiente.
Assim, se retrocedermos, causa por causa, até o infinito, teremos que admitir uma primeira causa eficiente (que produz de si mesma), à qual todos damos o nome de Deus.
3 – A Possibilidade e a Necessidade: Na observação da natureza, podemos encontrar coisas que são possíveis de ser e não ser, de modo que, dependendo da circunstância algo é possível, e em outras situações não é possível. Por exemplo: É possível a um homem, em condições climáticas normais, colocar fogo em um arbusto, mas caso esteja chovendo muito, isso não é mais possível. Entretanto, se parar de chover, torna-se possível ao homem atear fogo no determinado arbusto. Então, podemos dizer em nosso exemplo, que enquanto estiver chovendo, não existe fogo no arbusto (não ser), ao passo que, terminada a chuva e colocado o fogo pelo homem, o arbusto se incendeia (ser).
Dessa maneira, todas as coisas dependem da possibilidade de ser, pois caso não haja a possibilidade para determinada coisa de ser, ela não será, isto é, não existirá.
Podemos falar agora da necessidade. Para que alguma coisa seja possível de ser, deve haver algo capaz de fazer possível que determinada coisa seja. Esse algo capaz de fazer alguma coisa ser, então, é algo necessário, sem o qual não seria possível para a coisa ser.
No exemplo acima, a não existência de chuva forte, faz o fogo no arbusto ser. Se fôssemos retroceder a todas as coisas necessárias para que o arbusto pegasse fogo, voltaríamos até o infinito, pois o ato de colocar fogo no arbusto faz parte de uma cadeia sequencial de atos (necessidade) até que seja possível colocar fogo no arbusto (arbusto seco – arbusto – nascimento do arbusto – semente do arbusto – terra para plantar o arbusto, e assim até o infinito).
Assim, não podemos deixar de admitir a existência de algo que tem em si mesmo sua própria possibilidade e necessidade, não as tendo recebido de nenhum outro, mas antes, esse algo é a causa necessária e da possibilidade de tudo mais ser. A esse algo, todos os homens chamam de Deus.
4 – A Gradação: Em todos os seres, podemos encontrar um determinado sistema de gradação entre eles, isto é, alguns que são mais e outros que são menos bons, amáveis, sinceros, nobres. Porém essas gradações (de mais ou menos) são atribuídas a diversas coisas na medida em que elas se parecem com algo que é o máximo. Por exemplo: Dizemos que alguém é mais nobre, mais amoroso, mais misericordioso, em relação àquele que é nobre, amoroso e misericordioso.
O máximo, dentro de qualquer gênero, é a causa de tudo quanto existe nesse gênero. Assim, deve haver algo que, para todos os seres, é a causa do ser de todos eles, de sua bondade e de todos os seus outros atributos, e a esse algo graduado no nível máximo, chamamos de Deus.
5 – O Governo e a Finalidade: A quinta maneira de se provar a existência de Deus se baseia no governo e na finalidade (teleologia) inteligente do mundo, isto é, as coisas existentes, não estão no mundo aleatoriamente dispersas, mas possuem uma utilidade, e ainda além dessa utilidade, possuem uma finalidade. Por exemplo: A erva cresce, se torna alimento da ovelha, e esta se transforma em alimento e vestimenta para o ser humano.
Entretanto esse argumento vai muito além de mostrar uma cadeia simples de governo e finalidade (erva – ovelha – homem): Ele revela a inter-relação perfeita de todas as coisas no mundo. Assim, todas as coisas naturais foram ordenadas a se comportar de uma determinada forma (governo), para atingirem um objetivo também previamente estabelecido (finalidade).
Ora, é impossível para coisas irracionais se dirigirem a uma finalidade, a menos que sejam orientadas por algum ser dotado de conhecimento e inteligência, tal como a flecha não pode atingir um alvo se não for orientada pelo lanço de um arqueiro. Portanto, existe algum ser por meio do qual todas as coisas naturais são dirigidas (governadas) às suas respectivas finalidades (pré-determinadas por Ele). E a esse ser chamamos de Deus.
1.3.3. DEUS COMO EXPRESSÃO MÁXIMA DAS VIRTUDES DO HOMEM
O homem é o ápice de toda criação que há no mundo. Não há nenhuma coisa ou ser que se compare a ele em domínio, finalidade, vontade ou potencial.
Existem coisas que são maiores ou mais poderosas que ele, mas o homem tem a capacidade de dominar a todas: desde o corte de árvores gigantescas, até o redirecionamento de rios inteiros ao seu querer. Muitos seres são mais ágeis e resistentes que o homem, contudo, tanto os grandes felinos, como o tigre e o leão, quanto as imensas baleias são facilmente dominadas pela capacidade do homem. Todas essas condições foram presenteadas ao homem, por Deus, conforme Gênesis 1:28:
“E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo animal que se move sobre a terra.”
Entretanto, o ser humano possui virtudes que vão muito além daquelas que são aplicadas às aptidões físicas ou intelectuais: Ele possui virtudes de caráter, que são inconciliáveis com qualquer instinto e lógica natural, ou seja, o indivíduo humano externa determinadas atitudes que contrariam o instinto de autopreservação ou de prazer próprio.
Por exemplo, o homem é capaz de atos de extrema bravura e nobreza, ao entrar em locais em chamas para salvar a vida de seus semelhantes, e isso sem receber nenhuma retribuição, ou ainda, é capaz de renunciar honras a sua própria pessoa para reconhecer que outros fizeram um melhor trabalho que ele, e por isso são mais dignos de receberem as honras que lhe são prestadas.
Muitos outros exemplos poderiam ser apontados, mas esses já bastam para concluirmos que o homem possui, como nenhuma outra coisa ou ser, virtudes morais, que o determinam a definidas atitudes que não são nem instintivas, tampouco apenas intelectuais.
Pensando sobre a possibilidade de se provar a existência de Deus, um grande filósofo moderno (séc. XVIII), chamado Immanuel Kant, através de várias obras no campo da filosofia – ora assumindo a existência de Deus (História Geral da Natureza), ora a criticando (Crítica da Razão Pura) – construiu um sistema que o levou a concluir, em sua obra O Único Argumento Possível para a Existência de Deus, que é possível se provar a existência de Deus através da finalidade moral que o homem possui. Kant entende que o homem é um ser dotado de uma razão que é prática, isto é, que é capaz de agir intencionalmente. Isso significa que o homem possui a capacidade de dar uma finalidade às suas atitudes, independentemente de seu instinto (algo semelhante ao livre-arbítrio, ainda que apenas em parte).
Logo, se pela finalidade natural (ver Item 1.3.2 Os Cinco Argumentos em Prol da Existência de Deus, de Tomás de Aquino) já era provável a conclusão de uma causa inteligente do mundo (Deus), muito mais acertado é deduzir a existência de Deus, tomando-se por base a finalidade
moral do ser humano, ou seja, se o homem é moral, Deus é a causa máxima da moralidade do homem, e além disso, é um legislador moral do mundo.
E isso se dá em virtude do homem possuir, em si, da mesma substância de Deus (evidentemente apenas em parte, e outorgada a ele, mas não como dele próprio), pois Dele foi derivado, de acordo com Gênesis 1:26-27 e 2:7:
“E disse Deus: Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança (…). E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (…). E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.”
Assim, todas as virtudes do homem (bondade, amor, nobreza, simplicidade, generosidade, etc) devem possuir uma fonte que é a geradora de todas elas, ou seja, que é o grau de virtude máxima, de forma que ao valor moral mais sublime dá-se o nome de Deus.
1.4. CONCEITUAÇÕES ECLESIÁSTICAS DE DEUS NA FÉ PRÁTICA REFORMADA
1.4.1. A CONCEITUAÇÃO LUTERANA DE DEUS – Confissão de Fé Alemã (Augsburgo) de 1530, por Philipp Melanchthon.
Em primeiro lugar, ensina-se e mantém-se, unanimemente, de acordo com o decreto do Concílio de Nicéia, que há uma só essência divina, que é chamada Deus e verdadeiramente é Deus. E todavia há três pessoas nesta única essência divina, igualmente poderosas, igualmente eternas, Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, todas três uma única essência divina, eterna, indivisa, infinita, de incomensurável poder, sabedoria e bondade, um só criador e conservador de todas as coisas visíveis e invisíveis. E com a palavra persona se entende não uma parte, não uma propriedade em outro, mas aquilo que subsiste por si mesmo, conforme os Pais usaram esse termo nessa questão.
Rejeitam-se, por isso, todas as heresias que são contrárias a esse artigo, como os maniqueus, que afirmaram a existência de dois deuses, um bom e um mau; também os valentinianos, arianos, eunomianos, maometanos e todas as similares, também os samosatenos, os antigos e os novos, que afirmam uma só pessoa e sofismam acerca do Verbo e do Espírito Santo, dizendo não serem pessoas distintas, porém que Verbo significa palavra ou voz física, e que o Espírito Santo é movimento criado em suas criaturas.
1.4.2. A CONCEITUAÇÃO PURITANA DE DEUS – Confissão de Fé Escocesa de 1560, por John Knox e outros.
Confessamos e reconhecemos um só Deus, a quem, só, devemos apegar-nos, a quem, só, devemos servir, a quem, só, devemos adorar e em quem, só, devemos depositar nossa confiança (Dt. 6:4. I Co. 8:6. Dt. 4:35. Is. 44:5-6.). Ele é eterno, infinito, imensurável, incompreensível, onipotente, invisível (I Tm. 1:17. I Rs. 8:27. II Cr. 6:18. Sl. 139:7-8. Gn. 17:1. I Tm. 6:15-16. Êx. 3:14-15); um em substância e, contudo, distinto em três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Mt. 28:19. I Jo. 5:7). Cremos e confessamos que por ele todas as coisas que há no céu e na terra, visíveis e invisíveis, foram criadas, são mantidas em seu ser, e são governadas e guiadas pela sua inescrutável providência para o fim que determinaram sua eterna sabedoria, bondade e justiça, e para a manifestação de sua própria glória (Gn. 1:1. Hb. 11:3. At. 17:28. Pv. 16:4).
1.4.4. A CONCEITUAÇÃO PRESBITERIANA DE DEUS – Confissão de Fé de Westminster de 1647.
Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições. Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões; é imutável, imenso, eterno, incompreensível, -onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo para a sua própria glória e segundo o conselho da sua própria vontade, que é reta e imutável. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro remunerador dos que o buscam e, contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia todo o pecado; de modo algum terá por inocente o culpado.
Deus tem em si mesmo, e de si mesmo, toda a vida, glória, bondade e bem-aventurança. Ele é todo suficiente em si e para si, pois não precisa das criaturas que trouxe à existência, não deriva delas glória alguma, mas somente manifesta a sua glória nelas, por elas, para elas e sobre elas. Ele é a única origem de todo o ser; dele, por ele e para ele são todas as coisas e
sobre elas tem ele soberano domínio para fazer com elas, para elas e sobre elas tudo quanto quiser. Todas as coisas estão patentes e manifestas diante dele; o seu saber é infinito, infalível e independente da criatura, de sorte que para ele nada é contingente ou incerto. Ele é santíssimo em todos os seus conselhos, em todas as suas obras e em todos os seus preceitos.
Da parte dos anjos e dos homens e de qualquer outra criatura lhe são devidos todo o culto, todo o serviço e obediência, que ele há por bem requerer deles.
1.4.5 A CONCEITUAÇÃO BATISTA DE DEUS – Confissão de Fé Batista de 1689.
O Senhor nosso Deus é somente um, o Deus vivo e verdadeiro (I Co.8: 4,6. Dt.6:4), cuja subsistência está em si mesmo e provém de si mesmo (Jr.10:10. Is.48:12); infinito em seu ser e perfeição, cuja essência por ninguém pode ser compreendida, senão por Ele mesmo (Êx.3:14).
Ele é um espírito puríssimo (Jo.4:24), invisível, sem corpo, membros ou paixões; o único que possui imortalidade, habitando em luz inacessível, a qual nenhum homem é capaz de ver I Tm.1:17. Dt.4:15-16); imutável (Ml. 3:6), imenso (I Rs.8:27. Jr.23:23), eterno (Sl.90:2), incompreensível, todo-poderoso (Gn.17:1); em tudo infinito, santíssimo (Is.6:3), sapientíssimo; completamente livre e absoluto, operando todas as coisas segundo o conselho da sua própria vontade (Sl.115:3. Is.46:10), que é justíssima e imutável, e para a sua própria glória (Pv.16:4. Rm.11:36); amantíssimo, gracioso, misericordioso, longânimo; abundante em verdade e benignidade, perdoando a iniquidade, a transgressão e o pecado; o recompensador daqueles que o buscam diligentemente (Ex.34:6-7. Hb.11:6); contudo justíssimo e terrível em seus julgamentos (Ne.9:32-33), odiando todo pecado (Sl.5:5-6), e que de modo nenhum inocentará o culpado (Êx.34:7. Na.1:2-3).
Deus tem em si mesmo e de si mesmo toda a vida (Jo.5:26), glória (Sl.148:13), bondade (Sl.119:68) e bem-aventurança. Somente ele é autossuficiente, em si e para si mesmo; e não precisa de nenhuma das criaturas que fez, nem delas deriva glória alguma (Jó 22:2-3); mas somente manifesta, nelas, por elas, para elas e sobre elas a sua própria glória. Ele, somente, é a fonte de toda existência: de quem, através de quem e para quem são todas as coisas (Rm.11:34-36), tendo o mais soberano domínio sobre todas as criaturas, para fazer por meio delas, para elas e sobre elas tudo quanto lhe agrade (Dn.4:25,34-35). Todas as coisas estão abertas e manifestas perante Ele (Hb.4:13); o seu conhecimento é infinito, infalível e
independe da criatura, de maneira que para Ele nada é contingente ou incerto (Ez.11:5. At.15:18). Ele é santíssimo em todos os seus ensinamentos, em todas as suas obras (Sl.145:17), e em todos os seus mandamentos. A Ele são devidos, da parte de anjos e de homens, toda adoração (Ap.5:12-14), todo serviço, e toda obediência que, como criaturas, eles devem a criador; e tudo mais que Ele se agrade em requerer de suas criaturas.
1.5. CONCLUSÃO
Diante de tantos argumentos e proposições filosófico-científicas, até se poderia convencer as mentes sobre a existência e realidade de Deus. Ainda assim, existiram os homens com a consciência cauterizada que o apóstolo Paulo falou, e que em Romanos 1 descreve com clareza.
Não seria necessária a ciência para explicar a existência de Deus. Ele, o Senhor Todo-Poderoso, simplesmente é, o Deus “Eu sou”, que na sarça se revelou a Moisés, e ainda deseja se revelar a todo homem, por meio de Seu Único Filho, Jesus Cristo. Esse Deus utiliza, com toda a certeza, da razão para se mostrar ao homem, pois foi Ele quem lhe conferiu esse presente, contudo, sem a fé, requisito indispensável para se chegar a Ele, a razão só distancia o homem de Deus, e o aproxima mais de si mesmo e da sua vaidade, típica da sua natureza pecaminosa.
O teólogo Augustus Hopkins Strong aponta que sem a prática, a ciência teológica não tem utilidade proveitosa:
“A teologia é uma ciência cujo cultivo pode ser bem-sucedido somente em conexão com sua aplicação prática.”
Um grande cientista cristão, chamado Louis Pasteur, disse uma vez:
“Pouca ciência afasta-nos de Deus; muita ciência nos aproxima Dele.”
Por fim, terminamos com as palavras do homem que mais se esforçou para ensinar os incrédulos no caminho da existência e verdade eterna de Deus, na pessoa de Jesus Cristo, por meio de sua 1ª Carta aos Coríntios, em 1:18,21-24, o apóstolo Paulo ensina:
“Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus (…).Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria. Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus.”
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