Pois todos pecaram. (Romanos 3.23)
Pequei contra ti, contra ti somente. (Salmo 51.4)
Além de uma visão bíblica de Deus, a maior necessidade do homem é uma visão bíblica de si mesmo. Aqui descobrimos um grande contraste entre o pensamento secular e a verdade bíblica. A visão contemporânea é que o homem é basicamente bom e seus maiores problemas decorrem de influências externas nocivas – fatores sociais, políticos, econômicos e educacionais, para citar alguns. Em contraste, as Escrituras ensinam que o homem é uma criatura caída e que a corrupção moral de seu coração é a fonte de todos os seus males.
Ao pregar o evangelho de Jesus Cristo, devemos nos esforçar para comunicar aos nossos ouvintes uma visão bíblica do pecado e do pecador. A exposição das Escrituras no poder do Espírito Santo é a única maneira de realizar tal esforço. O trabalho é difícil e muitas vezes mal compreendido, mas é tão necessário como arar o campo antes da semeadura das sementes. É nossa tarefa falar sobre o assunto que a maioria dos homens prefere esquecer. Nosso trabalho é incomum, porque o grau de convicção, quebrantamento e arrependimento criado no coração dos nossos ouvintes é a nossa medida de sucesso. É um caminho difícil, mas é o único caminho para a salvação.
Em Romanos 3:23, o termo pecaram é traduzido da palavra grega mais comum para o pecado, hamartáno, que significa errar o alvo, falhar, ou desviar-se do caminho. A palavra hebraica mais comum para pecado échata, e carrega o mesmo significado. O escritor de juízes comunica a ideia por trás de ambas as palavras quando nos diz que os homens de Benjamin “atiravam com a funda uma pedra num cabelo e não erravam”.[1] O sábio de Provérbios também adverte que “peca [ou, desvia-se do caminho] quem é precipitado”.[2] Do ponto de vista bíblico o alvo que o homem deve mirar e o caminho no qual deve andar são a vontade de Deus. Qualquer pensamento, palavra ou ação que não está em perfeita conformidade com essa norma é pecado. Mesmo o menor desvio traz culpa. Por essa razão, o Catecismo Maior de Westminster define o pecado como “qualquer falta de conformidade com a lei de Deus” (p. 24). É importante notar que a Escritura nunca apresenta “errar o alvo” como um erro inocente ou não intencional. É sempre um ato de desobediência intencional resultante da corrupção moral do homem e da inimizade para com Deus.
Em nosso texto, a acusação de haver pecado foi colocada diante de todos os homens, sem exceção, “pois todos pecaram”. Esse mesmo sentimento ecoa por toda a Escritura. No Antigo Testamento, lemos: “não há homem que não peque”, e “não há justo nenhum vivente”.[3] O sábio e soturno rei Salomão viu através da fina camada da moralidade do homem e declarou: “Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque”.[4] Finalmente, o profeta Isaías vasculhou toda a humanidade e exclamou: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho”.[5]
Os escritores do Antigo Testamento foram implacáveis em sua condenação do homem, mas não devemos pensar que os escritores do Novo Testamento possuíam qualquer opinião diferente ou que sua censura foi menos intensa. Em Romanos 3, o apóstolo Paulo amarra uma coleção de citações do Antigo Testamento juntas para demonstrar a universalidade do pecado e as profundezas da depravação humana. É uma das denúncias mais longas e diretas contra a humanidade em toda a Escritura: “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.”[6]
Das Escrituras, vemos que o pecado não é um fenômeno raro ou incomum confinado a uma pequena minoria da humanidade, mas seu escopo é universal. Cada membro da raça de Adão se juntou à rebelião que ele começou. Aqueles que negam essa verdade devem negar o testemunho da Escritura, da história humana e de suas próprias reflexões, palavras e ações pecaminosas. O apóstolo João vai mais longe ao ponto de dizer que aqueles que negam a realidade do pecado está fazendo de Deus um mentiroso e provando que não possuem qualquer relacionamento com ele: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. […] Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.”[7]
O menor vislumbre da Escritura mostrará que o pecado é o maior mal do homem, no entanto, não pode ser negado por nenhum esforço da imaginação que o pecado é tratado de forma leviana por nossa cultura contemporânea e pelo suposto cristianismo que ela produziu. Por essa razão, devemos ser ainda mais cuidados em seguir o exemplo dos escritores da Bíblia, que trabalharam com intenso esforço para expor o pecado e torná-lo totalmente maligno. Não devemos falar do pecado de forma genérica e inofensiva, que não perturbar nem converte a alma, mas devemos empregar uma linguagem precisa, que define o verdadeiro caráter do pecado e expõe todas as suas manifestações. Nosso objetivo é pintar um quadro do pecado tão horrível nos corações e nas mentes de nossos ouvintes que ele não poderá ser removido exceto pelo sangue do Cordeiro. Para atingir esse objetivo, devemos examinar algumas das características mais comuns e frequentes do pecado.
[1] Juízes 20.16; ênfase adicionada.
[2] Provérbios 19.2; ênfase adicionada
[3] 1 Reis 8.46; Salmo 143.2
[4] Eclesiastes 7.20
[5] Isaías 53.6
[6] Romanos 3.9-12
[7] 1 João 1.8, 10
Extraído do livro 12º capítulo do livro “O Poder e a Mensagem do Evangelho” de Paul Washer, a ser lançado pela Editora Fiel. Tivemos a oportunidade de traduzi-lo e o privilégio de poder compartilhar pequenos trechos de cada capítulo com vocês.Tradução: Vinícius Musselman Pimentel. Versão não revisada ou editada. Postado com permissão.© Editora Fiel. Todos os direitos reservados. Original: Pecadores: todos e cada um (Paul Washer) [12/26]Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.
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